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20 de outubro de 2016Sociólogos analisam consequências da crise e da rejeição dos eleitores à política
O assustador número de desempregados no país, aliado ao gigantesco número dos eleitores que rejeitam a política nacional – flagrante no elevado número de abstenções nas votações – , acende o sinal de alerta e aponta para uma população sem esperança na possibilidade de um futuro promissor. Sociólogos analisam as consequências do elevado índice de desemprego, e destacam a importância de movimentos sociais que enfrentem este quadro.
Dados do IBGE divulgados na semana passada apontam que o País tem atualmente uma grande massa de 22,7 milhões de pessoas desempregadas, subocupadas ou inativas, mas com potencial para trabalhar. Paralelamente, dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontam que, dos 144 milhões brasileiros aptos a votar, 25 milhões deixaram de comparecer às urnas no primeiro turno das eleições municipais deste ano, o que representa 17,58% do total. Na eleição presidencial de 2014, dos 142 milhões de eleitores aptos, 27,6 milhões se abstiveram, 4,4 milhões votaram em branco e 6,6 milhões votaram nulo.
“O desemprego é uma catástrofe. Quando você tem um mercado de trabalho que já é desqualificado, porque nós temos poucos empregos formais com relação ao total de pessoas economicamente ativas, isso leva não só a quebra, mas também ao desespero das pessoas”, disse o professor de sociologia do Instituto de Educação de Angra dos Reis, Marcos Marques de Oliveira.
Segundo o sociólogo, as teorias sociais costumam apontar o aumento da sensação de violência como consequência do aumento do número de desemprego. Para ele, parte significativa da população fica mais sensível a outras formas de buscar renda, que nem sempre são legais.
“O desamparo emocional atinge pessoas que buscam sentido a sua vida. Nosso desafio agora é ajustar as contas publicas, para sobrar recursos para o investimento”, disse o professor Marcos.
Este quadro fica ainda mais dramático quando se constata que são 23 milhões de jovens desempregados.
“Acho que o novo governo acerta quando ele finaliza a reforma do ensino médio, flexibilizando o currículo para que possa se tornar mais funcional ao mercado de trabalho. Em curto prazo, temos que nos contentar com o que temos e continuar motivando o jovem para que mesmo sem perspectiva de emprego, ele não saia da escola. O desafio é continuar estudando para entrar no mercado com uma melhor formação”, disse o professor da IEAR.
Por outro lado, o professor de sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Cristiano Fonseca Monteiro, diz que em termos políticos, existem movimentos sociais, como os recentes casos de ocupação das escolas no Rio e em São Paulo, que refletem uma valorização para os próprios alunos do ensino em discutir e politizar.
“Ao mesmo tempo em que há essa apatia e movimentos que vão naquela linha de escola sem partido, a dimensão política continua presente. Isso revela o investimento na educação feito pelo governo anterior. O desafio é saber se os nossos atuais governantes estão dispostos a entender essa mensagem”, ressaltou o professor.
Para Cristiano, as medidas do novo governo vão na contramão de uma proposta política para acabar com essa onda de abstenção de votos.
“A solução sempre vai ter que passar pela política. E todo esse movimento da Operação Lava Jato e da imprensa noticiando contribuiu muito para a deslegitimação da política. Uma medida provisória é uma aposta numa saída que recusa a política. É uma tentativa autoritária de passar por cima das questões políticas. Os institutos federais de educação se destacaram nas avaliações do Ministério da Educação. Como você vai apresentar uma reforma considerando todos esses atores que não participaram da discussão?”, questionou o sociólogo.
Os jovens são os que mais sofrem com o desemprego, segundo o professor da UFF, e a crise pegou muita gente de surpresa. Entretanto, Cristiano também questiona que tipo de qualificação é requisitada em um país que hoje é voltado, principalmente, para bens primários.
“Todo mundo é a favor da educação, mas em termos práticos, na hora de pensar nos investimentos, a qualificação não é tão importante num país voltado para bens primários. Os empresários ganham bastante dinheiro com uma mão de obra pouco qualificada. O que as nossas empresas esperam em termos de qualificação?” questionou.
Jornal do Brasil / Rebeca Letieri *
Fonte – Jornal do Brasil